quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ser Mulher, negra e quilombola no Brasil, minha lição de vida



Estive analisando minha condição de mulher, negra,militante, professora e quilombola. 

Este é talvez o último lugar na escala social deste país, não falo isso com pesar e sim com orgulho de quem descobriu o seu lugar no mundo e de quem sabe que com essa minha realidade posso ser a mudança que acredito para as muitas Marias do Brasil. 
Durante anos lutei como louca pelas coisas que acreditava, no entanto continuava negando minha condição, quando alisava meus cabelos, quando não assumia que era militante, quando aceitava as piadas de mal gosto com negros e negras, quando me calava a provocações de racistas. A mudança foi tão lenta que nem sei quando ela chegou, mais sei que mudei...um pouco pelas criticas do meu sobrinho Carlos que sempre brincava por que eu escovava os cabelos kkkkk, ai eu ficava brava mais depois compreendi que existia uma lógica naquilo mesmo, se eu negava minha natureza não existia aceitação, reconhecimento e nem valorização...então cortei os cabelos ...um passo importante no processo...3 meses, 90 dias sem escova, sem chapinha...LIBERDADE TOTAL!

Mais ser mulher, negra e quilombola não é apenas não escovar e não chapar os cabelos, existe uma questão econômica presente nesta situação. 

Pesquisas feitas pelo IBGE e outros instituições comprovam que no Brasil um branco ganha mais que um negro, um homem ganha mais que uma mulher, um homem negro ganha mais que uma mulher negra, uma mulher branca ganha mais que uma mulher negra, uma mulher urbana ganha mais que uma mulher rural, uma mulher rural branca ganha mais que uma mulher rural negra e uma mulher negra no geral ganha mais que uma mulher quilombola, são dados que nos permite refletir que ser mulher e quilombola é de fato nascer em uma condição de vulnerabilidade que praticamente nos limita a condições de insucesso. No entanto a educação é um dos fatores que podem mudar esse quadro. 
Quando uma quilombola publica um texto analisando essa realidade já temos um avanço, uma certa inversão e um ruptura e quebra de paradigmas, não pelo fato de uma quilombola poder ter cursado uma universidade, não por ter cursado uma especialização, pois após 10 anos da politica de cotas já temos um número significativos de remanescentes de quilombo nesta situação, mais o diferencial esta na aceitação e no reconhecimento que sou MULHER, NEGRA E QUILOMBOLA e tenho orgulho de ser o que sou. Ainda tenho Muitas lutas, muitos caminhos a percorrer mais o farei e sei que vai valer a pena!

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